E quando você vai

19 nov

Estou perdido nessa realidade assim como qualquer ser humano que perambula errantemente pelas ruas. Guardo tudo para mim mesmo, sem querer compartilhar com o outro. Daí quando você guarda um turbilhão dentro do seu peito, você sente o dilacerar repentino e as dúvidas começam a surgir freneticamente. E não param. Não param mesmo. E são dessas, que se fundem com o ar que respiramos e fazem com que permaneçamos submersos sobre reflexões. Eu sei que você sabe disso. Sei sim. Não precisa repetir. Lembro de algumas pequenas coisas que talvez você não se lembre. Às vezes, as pequenas coisas podem passar despercebidas pelos nossos olhos, mas quando você menos espera, a coisa mais ínfima realizada por você pode ter sido gravada pelas retinas de alguém ou simplesmente pelo silêncio mórbido das paredes. Essas, que pensávamos enganar com os nossos sussurros enquanto conversávamos através das noites. Noites que passamos tantas vezes juntos, mas que agora talvez você também não se recorde muito bem. Estou dizendo isso porque me lembro daqueles sonhos fantásticos que você tinha. Alcançar o céu e as estrelas parecia muito fácil. Quem sabe algum dia você não consiga? Se caso quiser a minha ajuda é só pedir. Tô aqui pra isso. Você sabe. Sei que você sabe. Tô tentando achar uma resposta, mas não a encontro. Agora me conte a razão disso tudo. O porquê e o quê dessas incongruências, desses obstáculos. Na caminhada daquela noite, a lua erguida sobre o céu ficava nos observando a cada passo que dávamos. A sensação de estar sendo vigiado é constante. Eu sei que é um incômodo, mas nem tudo fica nos conformes. Fica tudo assim. Assim mesmo sabe? Uma inconstante linha reta que faz curvas repentinas e te joga no mar. Daí você fica de corpo nu flutuando na água, na areia, no cais, no céu, nos pensamentos. E fica contemplando o nada ou simplesmente observa o albatroz voar ao longe sem ninguém pra incomodá-lo. E tudo tão assim. Tão repentino. Tão estranho. Tão cruel. Tão confuso. E não venha querendo pegar na minha mão desse jeito, tão facilmente só porque estou meio indefeso.
Tudo o que eu penso, talvez já tenha pensado. Tudo o que eu digo, talvez já tenha dito. Tudo o que eu sinto, talvez já tenha sentido. Mas daí me bate aquela dúvida e fica tudo encaixado num perfeito quebra cabeça paradoxal. As contradições ficam claras e eu novamente fico confuso. Sabe, não gosto de me sentir tão confuso assim. Faz mal, me deixa na bad. Daí vem aquela coisa do subterfúgio que me domina rapidamente e deixa as coisas um pouco mais amenas. Subterfúgio sempre foi uma palavra que eu quis usar. Soa bonitamente, apesar dos pesares. Às vezes a realidade só passa a ser aceitável através das válvulas de escape disponíveis ao nosso redor.  Sim, eu sei que é uma forma covarde de encarar a situação, mas você sabe que eu sou assim. Você sabe. Sabe. E aí, eu só tenho esse centro escuro dentro de mim onde me agarro com forças pra não cair novamente. Acreditei em todas as palavras proferidas pelos seus lábios. Essas, que sussurradas ou mesmo vociferadas simplesmente acreditei. Agora não sei se você fez o mesmo. Vezenquando eu engolia as palavras proibidas que tinham o gosto amargo de café. Algumas delas ficaram dentro de mim e outras simplesmente viraram pó quando entraram em contato com o ar. Desculpa, mas não foi culpa minha. Sinto que talvez você não tenha palavras nesse momento. Sim, eu compreendo. Mesmo. Sério. Eu juro que compreendo. Se não acredita, dou um jeito em você. Acho uma saída, talvez dou-lhe um beijo, digo “tchau” e saio caminhando como se nada tivesse acontecido. Tudo poderia ser simples assim. Poderia. Queria poder olhar profundamente em teus olhos como daquelas vezes anteriores em que eu ficava tão apreensivo diante da tua presença. Quando ficava diante de ti, eu sentia teu olhar percorrer o meu corpo lentamente de um jeito tímido, porém com um intenso desejo carnal. Meus lábios sempre ansiavam pelo toque dos teus. E era assim. O coração queria falecer por poucos segundos. A respiração acelerava. Aquele turbilhão me invadia aos poucos e eu me entregava por completo para ele. E me sentia muito bem. Mas agora se eu quiser te olhar, vou acabar hesitando. Sei que vou. Você também sabe que vou. Por que você está assim? Seria mais uma vez como tantas outras. Ficaria mais uma vez submisso a ti e você poderia fazer com que eu me afogasse com as palavras agridoces que sempre diz.
Olha meu bem, pra mim está sendo muito difícil. Muito mesmo. Pra você talvez também esteja. Não sei mesmo. Na verdade, pensei que eu era imune a todas essas coisas. Só pensei. Acabei falhando comigo mesmo. E agora estou assim. Yes, of course, quero que você fique bem. Continue andando pelas ruas e pelas noites. A lua ainda está lá, você sabe. As estrelas também. Tudo entrelaçado numa linha constante que a qualquer momento pode mudar repentinamente e te jogar para um caminho cheio de obstáculos, de incongruências. De verdade? O turbilhão das dúvidas está me fazendo mal. Espero conseguir esquecer tudo isso que me corrói paulatinamente. Deixar de ficar submisso a todas essas coisas que me cercam, que me invadem, que me vigiam. Estou nas especulações. Quer que eu diga mais o que? Já estou me cansando. Se foi bom? Claro que foi. Você sabe que foi. Mas calma lá, não precisa ficar assim. De qualquer maneira, enquanto me apunhalas com a vagarosa delicadeza de tuas palavras, te mastigo dentro de mim, pensando que as promessas feitas jamais serão cumpridas. E agora, espero que o seu desejo tenha se realizado porque o meu, virou as costas e me traiu. E me deixou assim.

Assim mesmo.

Deixe um comentário