Ano de mil novecentos e noventa e dois, durante o treino de judô de meus irmãos, minha mãe se sente mal e é levada para o hospital. Já era noite e estávamos quase no fim do ano. Mais precisamente na noite do dia cinco de novembro. Nasci prematuro de sete meses. Segundo minha mãe, eu poderia ser colocado dentro de uma caixa de sapato devido ao meu tamanho. Algumas pessoas acreditavam que eu não sobreviveria, porém, cá estou eu firme e forte.
Diria que sou razoável quanto as minhas memórias de infância. Lembro que existia um grande pedaço de terra no quintal de casa com uma grande árvore de mangas e logo ao lado existia um ranchinho onde eram guardados vários objetos velhos. Eu tinha muito medo de chegar perto daquela árvore porque tinha muitas folhas no chão e isso dava impressão que sairia um bicho do meio daquela folhagem. Lembro que gostava de provocar um cachorro chamado “chibi” que vivia embaixo do carro de minha mãe. Eu sempre queria brincar com ele, mas ele não gostava de crianças, então eu jogava cabos de vassoura, água e pedra pra ver se ele saia pra brincar comigo.
Crescendo mais um pouco, lembro dos primeiros dias da escolinha, meus irmãos me levavam e buscavam de bicicleta (eu sempre ficava sentado atrás, naquela gradinha que machucava a bunda e ficava abraçado neles com medo de cair) e no meio do caminho sempre passávamos no meio de um atalho entre dois bairros que tinha uma pequena estrada de terra e grandes árvores em volta. Uma coisa que me faz lembrar muito dessa estrada de terra foi um dia em que tinha um bicho morto no meio do caminho e meu irmão disse que quem tinha matado aquele bicho foi o “chupa-cabra”. A partir daí eu tinha muito medo do “chupa-cabra” e imaginava que era um bicho parecido com um cachorro grande, pelos amarronzados e com olhos vermelhos. Assustadoramente assustador.
Na primeira série, lembro do primeiro dia que eu chorei muito e queria minha mãe ao meu lado, porém uma menina chamada Jaqueline (sério, era o nome dela) veio querer me acalmar. No mesmo dia a professora tinha pedido pra pintar um desenho e eu não tinha lápis de cor e quando fui pedir emprestado pra uma menina ela me disse um “não” bem enfático. Cards e bonequinhos do Pokémon que vinham naqueles guaranás eram os melhores brinquedos para mim. Lembro de um menino que quis roubá-los de mim sem eu perceber e eu o dedurei para uma mulher adulta que estava por perto. Ele se ferrou.
Todo mundo gostava de Castelo Rá Tim Bum, Cocoricó, Pequeno Urso, etc. Realmente fui uma criança sem cultura literalmente. Nunca gostei desses programas, mas queria gostar pra ter assunto com meus colegas. Ao invés de assistir televisão eu sempre ficava jogando vídeo game ou brincando com meus bonequinhos de papel. Bonequinhos de papel. Esses fizeram grande parte de minha infância. Eu procurava desenhar todos os personagens do Dragon Ball e dos Cavaleiros do Zodíaco, cada um com no mínimo trinta personagens. Sério, eu gastava horas e horas desenhando, pintando e recortando eles pra brincar durante as tardes inteiras. Era até mais divertido porque bonecos eram muito caros, então pelo papel eu podia brincar com qualquer personagem que eu quisesse.
Não gostava de carrinhos, jogar futebol, empinar pipa e ficar na rua. Sempre fui a ovelha negra da família inteira. Sempre me diferi das pessoas na escola. No jardim de infância, por exemplo, eu ganhava de todo mundo pra ver quem ficava mais tempo no bambolê. Gostava de ajudar a criar as coreografias e desenhos para as festas da escolinha. Hoje sou totalmente ao contrário. Não sei dançar e rebolar nada e não sou tão participativo na escola. Mudei e nem percebi.
Sofri bullying na quarta. Gostava de levar meus desenhos para escola, porém alguns meninos os pegavam e saiam correndo fazendo-me ficar bravo e começar a correr atrás deles feito louco. Certa vez, a professora mandou uns 5 meninos escreverem uma cartinha pedindo desculpas para mim. Até hoje, de certa forma, sou zuado na escola.
Meu medo de fantasmas veio da infância. Lembro que só de assistir filmes ou reportagens sobre aparições de espíritos eu não conseguia me mover do sofá. Medo de ir ao banheiro, ficar no escuro por muito tempo e deixar luzes acessas prevalecem até os dias de hoje.
Tive contato com filosofia quando criança e não entendia muita coisa. Hoje não sou expert no assunto, mas procuro sempre entender. Por causa da filosofia a professora dizia que eu era “mais amadurecido” que os outros garotos. Dizia que eu tinha cabeça mais a frente e tinha mente mais aberta. Comecei a me interessar a partir daí por debates sobre coisas polêmicas com colegas de classe. Você sempre fica muito pensativo.
A mente humana é algo incrível. Você se lembra exatamente das coisas que te marcaram e nunca esquece. Nada dura pra sempre, porém é bom aproveitar enquanto dura. Digo isso para as amizades que tenho nos dias de hoje. O tempo está passando muito rápido e daqui a um ano talvez, o hoje possa ser o passado nostálgico que estará batendo em mim, em você ou em nossas portas.
Talvez ou em breve.
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